Por: Aparecida Barbosa de Melo Ferreira
A
Síndrome de Asperger faz parte do aspecto autista, apenas tornando-se
diferente do autismo clássico porque não apresenta nenhum atraso ou
retardo global no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo ou na
linguagem do indivíduo.
Essa
síndrome é mais comum no sexo masculino, sendo este chegando
aproximadamente a ser atingido quatro vezes mais do que o feminino. A SA
foi exposta no ano de 1920, pela primeira vez, por Schucharewa,
neurologista da Rússia, que aponta essas pessoas como indivíduos que
apresentam persistência em se afastarem das relações sociais. No ano de
1944, um pediatra austríaco, chamado de Hans Asperger, divulgou alguns
casos de psicopatia autística infantil. Posteriormente, no ano de 1981,
L. Wing, uma psiquiatra norte americana definiu esta pertubação com SA
para homenagear Hans Asperger. Porém, só foi reconhecida mais tarde,
como critério de diagnóstico no DSM – IV ( Manual Diagnóstico e
Estatístico de Desordens Mentais ), no ano de 1994.
O novo critério do DSM – IV para diagnóstico de SA, inclui a presença de:
Particularidades qualitativas na interação social, envolvendo alguns ou todos dos critérios:
· Uso de peculiaridade no comportamento não-verbal para regular a interação social;
· Falha no desenvolvimento de relações com pares da sua idade;
· Falta de interesse espontâneo em dividir experiências com outros;
· Falta de reciprocidade emocional e social.
Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades envolvendo:
· Preocupação com um ou mais padrões de interesse restritos e estereotipados;
· Inflexibilidade a rotinas e rituais não funcionais específicos;
· Maneirismos motores estereotipados ou repetitivos, ou preocupação com partes de objetos.
De acordo com o DSM – IV os critérios para se poder diagnosticar a Síndrome de Asperger são:
Critérios Diagnósticos para F84. 5 – 299.80 Transtorno de Asperger
A. Prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes quesitos:
(1) Prejuízo
acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como
contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos
para regular a interação social.
(2) Fracasso para desenvolver relacionamentos apropriados ao nível de desenvolvimento com seus pares.
(3) Ausência
de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou
realizações com outras pessoas (por ex. deixar de mostrar, trazer ou
apontar objetos de interesse a outras pessoas).
(4) Falta de reciprocidade social ou emocional.
B. Padrões
restritos, repetitivos e estereotipados de comportamentos, interesses e
atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes quesitos;
(1) Insistente preocupação com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco.
(2) Adesão aparentemente inflexível a rotinas e rituais específicos e não funcionais.
(3) Maneirismos
motores estereotipados e repetitivos (por ex., dar pancadinhas ou
torcer as mãos ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo).
(4) Insistente preocupação com partes de objetos.
C. A
perturbação causa prejuízo clinicamente significativo nas áreas social e
ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento.
D. Não
existe um atraso geral clinicamente significativo na linguagem (por
ex., palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são
usadas aos 3 anos).
E. Não
existe um atraso clinicamente significativo cognitivo ou no
desenvolvimento de habilidades de auto-ajuda apropriadas à idade,
comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e
curiosidade acerca do ambiente na infância.
F. Não são satisfatórios os critérios para um outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Esquizofrenia.
Mesmo
que os sintomas do comportamento dessas crianças com SA estejam bem
definidos, pouco se sabe sobre as raízes neurobiológicas dessa desordem.
Segundo estudos realizados, os indivíduos com Autismo apresentam
anormalidades nos lobos frontais e parietais.
No
decorrer desse tempo os termos que utilizaram para definir essa
síndrome foram muitos, chegando até a criar grande confusão entre os
pais e educadores.
Essa
síndrome se caracteriza por apresentar desvios e anormalidades em
alguns aspectos do desenvolvimento, como; interação social, uso da
linguagem para a comunicação e algumas características repetitivas ou
perserverativas sobre um limitado número, porém bastante intenso, de
interesses. Os indivíduos não-autistas conseguem captar informações
cognitivas e emocionais de outras pessoas simplesmente através de
algumas pistas deixadas no ambiente social ou em traços em sua expressão
facial, na linguagem corporal, no humor ou na ironia. Enquanto que os
indivíduos com SA não apresentam essa capacidade, sendo assim não
conseguem reconhecer nem entender os pensamentos e sentimentos dos
demais, então são incapazes de prever o que se pode esperar dos demais
ou o que esses podem esperar deles. Dessa forma, são levadas a
apresentar comportamentos impróprios e anti-sociais.
Mesmo
tendo características semelhantes ao Autismo, os indivíduos com SA na
maioria das vezes têm habilidades cognitivas elevadas.
A
SA é conceitualizada como a disfunção mais ligeira do aspecto da
perturbação autista. Neste conceito, Van Krevelen (cit in Wing, 1991),
refere que ao nível mais grave do mesmo, se encontram crianças que
“vivem no seu próprio mundo”, enquanto que no nível mais discreto “vivem
no nosso mundo, mas à sua maneira”.
As
crianças com Síndrome de Asperger até podem procurar se inteirar
socialmente, mas sempre apresentarão dificuldades em interpretar e
aprender as capacidades de interação social e emocional com os outros.
Assim,
podemos perceber que nem todas as crianças com SA agem igualmente. Do
mesmo jeito, sendo menino ou menina, cada crianaç tem sua maneira
própria e singular e os sintomas dessa síndrome são apresentados de
maneira específica para cada indivíduo. Portanto, não adianta pensar que
existe uma receita pronta para vivenciar com essas crianças em sala de
aula, do mesmo modo que não existe uma metodologia ideal para ser usada
com crianças que não apresentam Síndrome de Asperger.
2. Estratégias de intervenções em sala de aula com portadores da Síndrome de Asperger
Diante
do quadro apresentado por um indivíduo com SA, não existe uma fórmula
exata para lidar com crianças e jovens com Síndrome de Asperger em sala
de aula, pois cada indivíduo com SA tem suas características típicas da
síndrome, porém manifestadas de forma individual e específica em cada
uma delas, mas percebe-se que podem ser usadas algumas estratégias que
serão úteis e ajudarão bastante a dar respostas ás necessidades
educativas especiais destas crianças. É importante perceber que serão
apresentadas algumas sugestões de uma forma geral, portanto deve ser
adaptado às necessidades únicas de cada indivíduo portador dessa
síndrome.
De
acordo com os estudos realizados a cerca da SA, é bastante relevante
destacar algumas intervenções realizadas em sala de aula.
Confrontadas
com mudanças, mesmo sendo rápidas, as crianças com SA ficam bastante
ansiosas, altamente sensíveis. É importante que o professor:
· Evite
as mudanças, principalmente as surpresas, pois as crianças com SA
precisam ser preparadas com antecedência para qualquer atividade que vá
alterar o horário ou mudar o hábito, mesmo que essa mudança seja mínima;
· Ofereça sempre um ambiente seguro e previsível;
· As
rotinas no dia-a-dia devem ser sólidas, pois as crianças com SA
precisam compreender essa rotina e saber sempre o que a espera;
· Evite
momentos que elas possam sentir medo do desconhecido, dos novos
professores, novas turmas, escola, tão cedo quanto possível e assim
evitam-se as preocupações que geram angústia;
As
crianças com SA apresentam muitas dificuldades em interagir
socialmente. Demonstram pouco jeito para começar e até mesmo manter uma
conversa, tendo assim dificuldade na comunicação. Elas falam para as
pessoas, mas não com elas. Frequentemente desejam fazer parte do mundo
social, no entanto, não sabem como se integra. É necessário que:
· A escola proteja essa criança das brincadeiras inadequadas;
· Quando
os colegas têm idades adequadas a entender, é importante que o
professor explique as características da criança com SA e sempre elogie
os colegas quando estes as tratam com respeito, sendo assim, se evita o
isolamento da criança;
· Vivencie
situações onde as crianças com SA apresentem suas habilidades
cognitivas em pequenos grupos, e possam ser vistas pelos colegas como
talentosas, favorecendo assim uma maior probabilidade de serem aceitas;
· As
crianças com SA, em sua maioria, desejam ter amigos, mas não sabem como
fazê-lo. Então, elas precisam ser orientadas de forma apropriada a
reagir em situações diferentes. Devem-se criar momentos onde o “faz -
de- conta” sirva de exemplos para que a criança com SA entenda as regras
que as outras crianças entendem de forma intuitiva;
· Quando
uma criança com SA, mesmo sem intenção, insulta, magoa, deve ser
explicado a ela que esse comportamento é inapropriado e qual deveria ser
o jeito correto de agir, pois a crianças com SA não tem noção do que é
as emoções dos outros;
· Quando
os estudantes são mais velhos, o professor pode adotar para o aluno com
SA o que chamamos de “amigo tutor”, que é aquele amigo da mesma classe,
sensível às dificuldades do estudante com SA e que vai sentar próximo e
tentar ajudá-lo nas atividades escolares;
· É
característico que a criança com SA apresente tendência para se
retrair, portanto o professor precisa criar situações de envolvimento
com os outros, favorecendo a socialização e evitando assim que ela passe
todo o tempo solitário nos seus interesses obsessivos por determinados
assuntos.
As
crianças com SA produzem longas lições, quando estas são das suas áreas
de interesses, repetem perguntas sobre determinados assuntos,
dificilmente elas mudam de opinião, seguem suas próprias idéias e na
maioria das vezes se recusam a aprender matérias que não faz parte do
seu grupo restrito de interesses. Então:
· Não
permita que crianças com SA persistam sobre assuntos de interesses
isolados. Quando isso acontecer limite este comportamento e especifique
pra ela um tempo, durante o dia, que ela possa conversar sobre esses
assuntos, desta forma ela vai aprender a se controlar, pois isso fará
parte da sua rotina diária;
A
utilização de um reforço positivo, com o intuito de se obter um
determinado comportamento, é uma estratégia importante para ajudar as
crianças com SA (Dewey, 1991).
· Estas crianças precisam também ser elogiadas quando apresentam comportamentos sociais adequados, por mais simples que sejam;
· Determinadas
crianças com SA se recusam a realizar trabalhos que não sejam da sua
área de interesses, portanto é necessário deixar claro para elas que não
é ela que manda e que é preciso que ela siga regras específicas. Porém,
simultaneamente, o professor também pode fazer concessões, permitindo
assim que ela siga os seus interesses em determinadas condições;
· Poderá
oferecer tarefas à criança com SA, relacionadas com o tema de seu
interesse e que tenha haver com a área de conhecimento em estudo, por
exemplo, se a criança tem interesse pela boneca da Emília, ofereça-lhe
exercícios gramaticais, situações problemas de matemática, ortografia,
textos para leituras sobre a Emília;
· Utilize
os interesses obsessivos da criança com SA para favorecer um
alargamento no seu repertório de interesses. Como exemplo, numa aula de
geografia sobre ecossistemas, o aluno com SA que possui obsessão por
animais, estuda não só os animais que habitam esses ecossistemas, mas
também os outros seres vivos, a casa desses animais, etc. Sem falar, que
é motivado a aprender a população desse local que derrubou as árvores
para garantir a sua sobrevivência.
As
crianças com SA estão frequentemente distraídas, ocupadas com os seus
pensamentos; são muito desorganizadas; apresentam dificuldades em
concentrar-se nas atividades da sala,(frequentemente,
tal não se deve a falta de atenção “per si”, mas sim ao focarem-se em
detalhes irrelevantes; a criança com SA não consegue discernir o que é).
importante [ Happe, 1991]
E
como tal a atenção é dirigida para estímulos insignificantes;
apresentam grande tendência para se isolarem no seu mundo interior, de
forma bem maior que o que chamamos “sonhar acordado”, e demonstram
dificuldade em aprender quando em grupo. Portanto:
· As
tarefas escolares devem ser divididas, as questões precisam ser
sintetizadas e o professor deve reorientar sempre que for necessário;
· As
crianças com SA devem estar sentadas nas carteiras da frente e o
professor tem que fazê-lhe, com freqüência, perguntas diretas, para que a
mesma possa perceber a necessidade de acompanhar a aula;
· É
importante que as crianças com SA tenham seus trabalhos de sala e
tarefas de casa diminuída em sua quantidade, pois apresentam
dificuldades de concentração;
· Sente
a criança com SA ao lado de outra criança que a lembre constantemente
da necessidade de estar atenta as tarefas e as aulas;
· O
professor precisa estar numa batalha constante no que se refere ao
encorajamento a criança com SA para que ela possa abandonar os seus
pensamentos ou as fantasias e concentrar-se no mundo real. É necessária
bastante paciência porque para a criança com SA o mundo interior é bem
mais atraente do que a vida real.
A
maioria das crianças com SA tem uma inteligência média ou acima da
média, (principalmente no domínio verbal), mas podem apresentar
dificuldades na capacidade de compreender os raciocínios muito
elaborados. Apresentam uma visão muito concreta e a capacidade de
abstração limitada. Mesmo tendo um estilo de linguagem pedante,
demonstrando uma falsa imagem do que compreendem o que estão dizendo,
quando na verdade estão apenas a repetir como um papagaio o que ouviram
ou o que leram. É importante:
* Proporcionar um programa educativo individualizado;
*
Quando os conceitos vivenciados em sala de aula forem abstratos, é
interessante que se proporcionem explicações adicionais ou tente
simplifica-los;
* Explorar bastante a capacidade de memória das crianças com SA, porque as informações concretas é a área forte delas;
*
Estabelecer regras claras no que diz respeito a qualidade do trabalho
acadêmico dessas crianças, porque em sua maioria, as crianças com SA não
se esforça em áreas que não a interessam.
Para
que muitas dessas estratégias dêem certas, é importante que sejam
consideradas as características particulares de aprendizagem de cada uma
dessas crianças para que o apoio necessário seja fornecido e só assim
se construa as competências necessárias.
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