Caixa
de trabalho: um depositário do mundo
interno do aprendiz
Por: Simaia
Sampaio
|
Muitos
Psicopedagogos utilizam a caixa de
trabalho como mais uma opção no
tratamento psicopedagógico, embora
existam psicopedagogos que não
trabalhem com a mesma. Veremos aqui o
que é a caixa de trabalho, suas
vantagens e desvantagens.
Visca idealizou a caixa de trabalho para se trabalhar com as dificuldades de aprendizagem e, para isso, inspirou-se na caixa individual utilizada pelos terapeutas analista na Psicanálise de crianças. Ela seria composta de brinquedos e materiais escolhidos para representarem o mundo interno das crianças, suas fantasias inconscientes frente ao mundo (BARBOSA, 2000, p. 35).
Visca idealizou a caixa de trabalho para se trabalhar com as dificuldades de aprendizagem e, para isso, inspirou-se na caixa individual utilizada pelos terapeutas analista na Psicanálise de crianças. Ela seria composta de brinquedos e materiais escolhidos para representarem o mundo interno das crianças, suas fantasias inconscientes frente ao mundo (BARBOSA, 2000, p. 35).
Visca nos diz que:
...cada caixa de trabalho é única, não apenas porque será usada por um único paciente (individual ou grupal), mas também no sentido de que não há caixas duas iguais, da mesma maneira que não existem dois indivíduos ou dois diagnósticos iguais (1987, p. 29).
...cada caixa de trabalho é única, não apenas porque será usada por um único paciente (individual ou grupal), mas também no sentido de que não há caixas duas iguais, da mesma maneira que não existem dois indivíduos ou dois diagnósticos iguais (1987, p. 29).
A caixa deverá ser única porque ela
representa uma importância
significativa para o sujeito, já que
contém objetos que foram escolhidos
para ele, os quais intencionam promover
“... a superação ou a minimização
das dificuldades de aprendizagem”
(BARBOSA, 2002, p. 36).
A caixa de trabalho constitui-se, na sua
forma física, só e tão somente numa
caixa de papelão, de cartolina ou
plástica, num tamanho suficiente que
possibilite guardar todo o material de
uso e pequenas construções.
Embora simples na aparência tem um rico
significado internamente já que é ali
que o sujeito depositará suas
construções e elaborações como
desenhos, pintura, texto etc. Ela
representa “o depositário de
conteúdos simbólicos do paciente”
(WEISS, 2003, p. 152). Ela não deverá
se tornar apenas receptáculos de
materiais e produções, pois representa
o mundo interno do aprendiz, devendo ser
manejada apenas por seu dono, sem correr
o risco de ser mexida ou observada por
terceiros, é o que nos aconselha
Barbosa. O psicopedagogo deverá
garantir a privacidade do sujeito para
que este não se sinta invadido e não
perca a confiança.
Para Barbosa ela é “um continente, no
qual a criança poderá depositar seus
conteúdos de saber e de não saber”
(2002, p. 35).
Weiss nos informa que “Os materiais a
serem colocados são definidos ao final
do diagnóstico quando se planeja o
tratamento” (2003, p. 152). Barbosa
completa nos dizendo que os materiais
são escolhidos previamente de acordo
com a leitura que fizemos da criança ou
adolescente durante a avaliação
psicopedagógica (2002, p. 35).
Para se organizar uma caixa é preciso
considerar alguns aspectos, tais como:
estágio de pensamento, interesses ou
motivações, déficits de aprendizagem,
sexo, idade, meio sócio-cultural,
prognóstico e grau de focalização da
tarefa (Visca, 1987, p. 29). Barbosa
completa ainda com: nível de
apropriação da linguagem escrita,
vínculos afetivos estabelecidos com as
situações de aprendizagem (2002, p.
36).
Barbosa nos faz uma observação de extrema relevância a cerca da composição da caixa. Há crianças ou adolescentes que apresentam o predomínio da assimilação, ou seja, são aquelas que se aproximam mais de situações lúdicas. Para estes sujeitos deverão ser colocado apenas um material não estruturado (tinta, argila, peças para montar, massa de modelar, etc) e mais materiais estruturados ou semi-estruturados (cadernos, livros, jogos com regras, modelos, receitas etc) a fim de que ele se identifique com a caixa através deste único material não-estruturado e experimente mudanças através dos diferentes materiais estruturados (2002, p. 36-37).
Barbosa nos faz uma observação de extrema relevância a cerca da composição da caixa. Há crianças ou adolescentes que apresentam o predomínio da assimilação, ou seja, são aquelas que se aproximam mais de situações lúdicas. Para estes sujeitos deverão ser colocado apenas um material não estruturado (tinta, argila, peças para montar, massa de modelar, etc) e mais materiais estruturados ou semi-estruturados (cadernos, livros, jogos com regras, modelos, receitas etc) a fim de que ele se identifique com a caixa através deste único material não-estruturado e experimente mudanças através dos diferentes materiais estruturados (2002, p. 36-37).
O excesso de materiais não estruturados
para este tipo de aprendiz representa o
excesso de recursos distratores,
dificultando sua concentração e sua
busca em direção ao movimento de
acomodação, que o obriga a modificar
os esquemas de aprendizagem já
existentes (Id. Ibid., 2002, p. 37).
Já em outros sujeitos ocorre o
predomínio da acomodação, que são
aqueles que estão sempre modificando
seus esquemas de forma excessiva o que
acabam por imitar e não criar. Para
estes, Barbosa recomenda um material
estruturado para servir como ponto de
partida e mais materiais
não-estruturados para que criem sem
seguir modelos, sem modificar seus
esquemas de aprendizagem, ou seja, são
sujeitos que necessitam de uma maior
flexibilidade.
Além de materiais, estruturados e não
estruturados, a caixa deverá conter
materiais básicos que servirão de
apoio, tais como: lápis, borracha,
régua, apontador e a depender da
necessidade apontada pela avaliação:
tesoura cola, revistas para recortar,
cadernos etc.
A caixa de trabalho pode ser incluída
como uma das constantes do
enquadramento, a qual só poderá sofrer
modificações com novos combinados
entre o terapeuta e o sujeito. Dentre as
modificações está o acréscimo ou a
retirada de algum objeto. Se isto for
feito sem nenhum critério ou
avaliação, a evolução do sujeito
poderá ser seriamente prejudicada.
É comum crianças e adolescentes
quererem trazer objetos de casa ou levar
objetos da caixa para casa. Isto só
pode acontecer se fizer parte de um
combinado entre aprendiz e terapeuta; se
for contribuir para a aprendizagem ou
para a minimização da dificuldade de
aprendizagem; se houver clareza dos
objetivos desta ação (Id. Ibid., 2002,
p. 38)
Outra modificação está em repor
objetos como uma cola que a criança
usou em apenas uma tarefa de recorte e
colagem. Barbosa nos orienta repor
“dependendo da consciência que ela
possui em relação aos limites e ao seu
descontrole frente aos limites” (2002,
p. 38).
Além da caixa de trabalho, há
profissionais que trabalham com o que
Bosse denominou de material disparador
em seu artigo na revista Psicopedagogia:
O material disparador –
considerações preliminares de uma
experiência clínica psicopedagógica.
Nesta citação ela explica porque acredita ser inviável trabalhar com a caixa de trabalho:
Nesta citação ela explica porque acredita ser inviável trabalhar com a caixa de trabalho:
Em nossa realidade atual, torna-se
praticamente inviável ao psicopedagogo
dispor de materiais como: jogos,
tesouras, caixas de lápis de cor etc.
para uso exclusivo de um único cliente.
A menos que o profissional se dedique a
atender pessoas de classe econômica
alta, o que não me parece ser o
objetivo da Psicopedagogia (BOSSE, 1995,
p. 81).
Consiste em selecionar um material
previamente ao início de cada sessão e
tem como objetivo mobilizar o sujeito à
busca da aprendizagem. A eleição do
material acompanha os interesses e
necessidades da criança ou adolescente.
Segundo Bosse, o material disparador
poderá ser um livro, um jogo, pedaços
de tecido, papel de dobradura etc.
Feita a seleção, o material é deixado
sobre a mesa de trabalho ao lado de uma
caixa com instrumentos básicos de uso
comum a todos os clientes, tais como,
lápis, borracha, tesoura, cola, caneta,
régua, apontador, hidrocor, papel
sulfite, papel pautado, quadriculado e
colorido.
Ela nos diz que o mesmo material deverá
ser oferecido ao sujeito por várias
sessões seguidas até que se esgote o
seu interesse, entretanto observa que o
fato dele perder o interesse não
significa que ele tenha superado a
defasagem. Então, caberá ao
psicopedagogo encontrar ‘uma nova
“brecha” entre os interesse da
criança, que permita trabalhar aquela
mesma dificuldade’ (1995, p. 82).
Da mesma forma que a caixa de trabalho,
o material a ser oferecido deverá estar
de acordo com seu nível cognitivo para
que lhe dê estímulo em seguir adiante.
Porém também deverá ser oferecido
outro material que mobilize
aprendizagens de um nível imediatamente
superior ao que o sujeito se encontra
para que se possa desafiá-lo a
trabalhar com suas dificuldades,
superando suas resistências.
As substituições também não deverão
ser feitas de forma aleatória. Elas
deverão responder a questões tais
como: “Porque vou substituir este
disparador nesta sessão? Porque vou
introduzir outro”. Mesmo quando o
sujeito pedir algo e este objeto estiver
na sala, ela propõe que diga que talvez
lhe seja entregue na próxima sessão.
Isto permitirá avaliarmos o seu nível
de tolerância à frustração e suas
resistências.
Creio que seja essa a contribuição da
proposta que desenvolvi com o material
disparador: a organização e
sistematização de uma prática
adequada à realidade brasileira e, ao
mesmo tempo, coerente com os princípios
de um modelo mais amplo, que é o da
Epistemologia Convergente, que lhe dá
sustentação. (BOSSE. P. 1995, p. 83).
Deveremos lembrar mais uma vez, que a
proposta da Epistemologia Convergente é
de se trabalhar com a caixa de trabalho,
através da qual o psicopedagogo irá
observar as ações do cliente para, a
partir daí, fazer suas intervenções
com o objetivo de promover o seu avanço
em relação às dificuldades.
Bibliografia:
BARBOSA,
Laura Monte Serrat. Caixa de trabalho
uma ação psicopedagógica proposta
pela Epistemologia Convergente, in
Psicopedagogia e Aprendizagem.
Coletânea de reflexões. Curitiba,
2002.
BOSSA,
Nadia A. A
psicopedagogia no Brasil: contribuições
a partir da prática. Porto Alegre,
Artes Médicas, 2000.
______________.
Dificuldades
de Aprendizagem: O que são? Como Tratá-las?
Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000.
BOSSE, Vera R. P. O material disparador
– considerações preliminares de uma
experiência clínica psicopedagógica.
In: Psicopedagogia, Rev 14 (33), São
Paulo, 1995.
PAÍN,
Sara. Diagnóstico
e tratamento dos problemas de
aprendizagem. Porto Alegre, Artes Médica,
1985.
WEISS,
M. L. L. Psicopedagogia
Clínica: uma visão diagnóstica dos
problemas de aprendizagem escolar.
Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
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