sexta-feira, janeiro 06, 2012

Transtorno de conduta infantil (Maldade Infantil)

 O que fazer quando a criança é Má?

Algumas crianças podem ter transtornos graves que a família não consegue detectar até que algo grave tenha acontecido.
Acho interessante que alguns educadores leiam as duas matérias que selecionei sobre o assunto, talvez você tenha um filho, aluno ou mesmo crianças conhecidas que tenham comportamento como os descritos nas matérias abaixo.

Leiam com atenção, pois o assunto é sério,  quanto antes detectado o problema e iniciado um tratamento maior as chances de se evitar problemas graves.
A primeira  matéria foi retirada do site da FOLHA

Tendência à psicopatia pode ser detectada, diz médica; leia trecho de livro

Folha Online
 
Mentiras frequentes, crueldade com coleguinhas e irmãos, baixíssima tolerância à frustração, ausência de culpa ou remorso e falta de constrangimento quando pegos mentindo ou em flagrante. Os pais podem ligar o sinal de alerta caso essas características comportamentais (somadas a uma série de outras, que podem ser vistas em lista abaixo) ocorram de maneira repetitiva e persistente em crianças e adolescentes. É possível que os filhos tenham "Transtorno de Conduta" e sejam candidatos à psicopatia quando tornarem-se adultos.
"Podemos observar características de psicopatia desde a infância até a vida adulta. Vale ressaltar que o diagnóstico exato só pode ser firmado por especialistas no assunto", afirma a médica psiquiatra Ana Beatriz B. Silva, autora do livro "Mentes Perigosas - O Psicopata Mora ao Lado" (Fontanar, 2008). "Além do mais, deve se atentar para a frequência e a intensidade com as quais estas características se manifestam", explica.
Leia abaixo trecho do livro "Mentes Perigosas" no qual a médica psiquiatra lista as características que podem indicar tendência à psicopatia na infância e adolescência e aponta as posturas que devem ser assumidas pelos pais. 

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".
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O que os pais podem fazer?
Como já foi dito anteriormente, podemos observar características de psicopatia desde a infância até a vida adulta. Antes dos 18 anos, por uma questão de nomenclatura, o problema é chamado de Transtorno da Conduta. Crianças ou adolescentes que são francos candidatos à psicopatia possuem um padrão repetitivo e persistente que podem ser sintetizados pelas características comportamentais descritas abaixo:

Capa do
 livro "Mentes Perigosas", de Ana Beatriz Barbosa Silva
Capa do livro "Mentes Perigosas", de Ana Beatriz Barbosa Silva
  • Mentiras freqüentes (às vezes o tempo todo);
  • Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos etc.;
  • Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais, professores etc.);
  • Impulsividade e irresponsabilidade;
  • Baixíssima tolerância à frustração com acessos de irritabilidade ou fúria quando são contrariados;
  • Tendência a culpar os outros por seus erros cometidos;
  • Preocupação excessiva com seus próprios interesses;
  • Insensibilidade ou frieza emocional;
  • Ausência de culpa ou remorso;
  • Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios;
  • Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo ou em flagrante;
  • Dificuldades em manter amizades;
  • Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos pais. Muitas vezes podem fugir e levar dias sem aparecer em casa;
  • Faltas constantes na escola sem justificativas ou no trabalho (quando mais velhos);
  • Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo como destruição de propriedades alheias ou danos ao patrimônio público;
  • Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos;
  • Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outras crianças ao sexo forçado;
  • Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool;
  • Nos casos mais graves, podem cometer homicídio.
Vale ressaltar que as características acima são apenas genéricas e que o diagnóstico exato só pode ser firmado por especialistas no assunto. Além do mais, o leitor deve se atentar para a freqüência e a intensidade com as quais estas características se manifestam.
É muito comum e até compreensível que os pais de jovens com características psicopáticas se perguntem quase sempre em um tom de desespero: "O que nós fizemos de errado para que nosso filho seja assim?". Os pais se sentem culpados por acharem que falharam na educação dos seus filhos e que não souberam impor limites. Isso é um grande equívoco! Não resta dúvida de que a educação, a estrutura familiar e o ambiente social influenciam na formação da personalidade de um indivíduo e na maneira como ele se relaciona com o mundo. No entanto, esses fatores por si só não são capazes de transformar ninguém em um psicopata.
Não obstante, é muito importante que os pais tenham conhecimento pleno sobre o assunto e que passem a reconhecer a disfunção em seus filhos, dispensando o devido valor que o problema merece. Quando em grau leve e detectada ainda precocemente, a psicopatia pode, em alguns casos, ser modulada através de uma educação mais rigorosa. Um ambiente familiar mais estruturado e com a vigilância constante de filhos "problemáticos" certamente não evita a psicopatia, mas pode inibir uma manifestação mais grave. E aí, fazer toda a diferença. É lógico que estas medidas estão longe de serem ideais, são apenas paliativas e demandam muito esforço e empenho por parte dos envolvidos na criação. No entanto, não podemos desprezá-las para salvaguardar a estrutura familiar e a sociedade como um todo. As posturas que devem ser assumidas são as seguintes:
  • Procure conhecer bem o seu filho. A maioria dos pais não sabe como ele se comporta longe dos seus olhos. Estabeleça contato com todas as pessoas do convívio dele (professores, amigos, pais dos amigos etc.). Quanto mais precocemente você identificar o problema maiores serão as chances de que ele se molde a um estilo de vida minimamente produtivo e socialmente aceito.
  • Busque ajuda profissional. Isto é válido tanto para se certificar do diagnóstico dessa criança quanto para que os pais recebam orientações de como devem agir.
  • Não permita que seu filho controle a situação. Estabeleça um programa de objetivos mínimos para obter alguns resultados positivos. Regras e limites claros são necessários para evitar as condutas de manipulação, enganos e falta de respeito com os demais. Lembre-se que uma criança com perfil psicopático apresenta um talento extraordinário em distorcer as regras estabelecidas e virar o jogo a seu favor. Por isso NÃO CEDA! Se você fraquejar, certamente ela ocupará todos os "espaços" deixados pela sua desistência.
Não pretendo ser pessimista, no entanto não seria honesto da minha parte afirmar que a psicopatia infanto-juvenil atualmente tenha uma solução satisfatória. O máximo que podemos fazer é adotar posturas no trato com essas crianças no sentido de melhorar a forma como a psicopatia vai se manifestar no futuro. A psicopatia não tem cura, é um transtorno da personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas.
Porém, temos que ter sempre em mente que tal transtorno apresenta formas e graus diversos de se manifestar e que somente os casos mais graves apresentam barreiras de convivência intransponíveis. Segundo o DSM-IV-TR a psicopatia tem um curso crônico, no entanto pode tornar-se menos evidente à medida que o indivíduo envelhece, particularmente a partir dos 40 anos de idade. 
"Mentes Perigosas"
Autora: Ana Beatriz B. Silva
Editora: Fontanar
Páginas: 224
Quanto: R$ 34,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090
 
  Agora leiam a segunda matéria publicada na revista Época


Sim, elas podem ser cruéis
Um tabu impede que se discuta a maldade infantil. Mas ela existe. E pode esconder transtornos graves - Martha Mendonça
Aos 7 anos, T. convenceu seus pais, profissionais liberais de Belo Horizonte, a demitir duas empregadas domésticas. O motivo alegado: elas batiam nele. As duas negaram as agressões, mas o menino chegou a apresentar uma marca roxa no braço. Um ano depois, nova queixa sobre outra empregada. Revoltado, o casal decidiu colocar câmeras escondidas. O que viram foi uma surpresa: T. era o agressor, com pontapés e atirando brinquedos. No fim de uma semana, perguntaram se a empregada havia batido nele novamente. Choroso, T. respondeu que havia sido surrado na cozinha – onde as imagens não mostravam nada. Diante das sucessivas mentiras, foi castigado.
Três anos depois, reincidiu. Com os pais já separados, adquiriu o costume de tirar dinheiro da carteira dos dois, dizendo ao pai que era a mesada da mãe, e vice-versa. Os pais só descobriram a farsa durante uma discussão sobre dinheiro. Pouco antes, uma empregada fora mandada embora da casa da mãe depois do sumiço de R$ 50. T. disse que a vira pegar a nota. Diante disso, os pais concluíram que o menino precisava de tratamento. Poucas sessões depois, o diagnóstico foi duro: ele apresentava o chamado transtorno de conduta, nome formal para a velha “índole ruim”.
“Não é fácil a sociedade aceitar a maldade infantil, mas ela existe”, diz Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa, no Rio de Janeiro. Ele explica que a criança ou adolescente que tem essa patologia pode se transformar, na vida adulta, em alguém com a personalidade antissocial – o termo usado hoje em dia para o que era chamado de psicopatia. “Essas crianças não têm empatia, isto é, não se importam com os sentimentos dos outros e não apresentam sofrimento psíquico pelo que fazem. Manipulam, mentem e podem até matar sem culpa”, diz Barbirato. Por volta da década de 70 do século passado, teorias sociais e psicanalíticas tentaram vincular esse comportamento perverso à educação e à sociedade. Nos últimos anos, porém, os avanços da neurologia sugerem a existência de um fenômeno físico: imagens mostram que, nas pessoas com personalidade antissocial, o sistema límbico, parte do cérebro responsável pela empatia e pela solidariedade, está desconectado do resto.
Um obstáculo para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. O senso comum afirma que as crianças são inocentes – uma crença que resulta da evolução histórica da família. Até o século XVII as crianças eram consideradas pequenos adultos e muitas nem sequer eram criadas pelos pais. No século XVIII, isso mudou. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário e a criança o centro dos cuidados e das atenções. Foi o nascimento do sentimento de infância, dentro de um grupo que agora tinha como laços o afeto e o prazer da convivência. Se a criança é o eixo do sentimento moderno de família, ela não pode ser má. Eis o tabu.
Foto: Renato Rocha 
Miranda/Divulgação TV Globo
NÃO PODE
A atriz mirim Klara Castanho como Rafaela, a criança manipuladora de Viver a vida. A justiça não quer que ela seja má 

Desde que a novela das 9 da TV Globo, Viver a vida, foi ao ar, em setembro do ano passado, o Ministério Público do Rio de Janeiro acompanha de perto a personagem Rafaela. A menina, vivida pela atriz mirim Klara Castanho, de 9 anos, desagradou à Justiça. O autor, Manoel Carlos, foi notificado. No documento, um pedido para que ele tenha “cuidado ao elaborar a personalidade de personagens cujos atores são menores de idade”. Na trama, Rafaela é uma menina mimada, que, para defender seus interesses, faz chantagem com uma amiga de sua mãe. Rafaela não pratica a maldade sem motivações concretas ou demonstra curiosidade mórbida. Ainda assim, o Ministério Público considera a personagem pouco adequada. Criança, aparentemente, não pode ser vilã.
As escolas, porém, desmentem isso: elas costumam ser o palco diário das maldades das crianças com transtorno de conduta. A psiquiatra carioca Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do best-seller Mentes perigosas, diz que crianças e adolescentes com esse distúrbio costumam estar por trás dos casos mais graves de bullying. Em maio, ela lançará Bullying – Mentes perigosas nas escolas, com foco na maldade infantil. “É típico do jovem com transtorno de conduta saber mentir e manipular para que os outros levem a culpa”, afirma. Barbirato faz uma ressalva. “Pequenas maldades e mentiras são absolutamente comuns na infância. De cada 100, cerca de 97 têm comportamento normal e, ao amadurecer, saberão diferenciar o certo do errado e desenvolverão a empatia”, diz.
Mas, e os 3% que faltam? Serão obrigatoriamente personalidades antissociais na vida adulta, seres sem empatia? Os especialistas são taxativos ao afirmar que não se cura transtorno de conduta. Ele será, no máximo, amenizado se tratado a tempo e houver sempre algum tipo de vigilância. Na maior parte dos casos, porém, isso não acontece. E o resultado de ninguém ter notado esses sinais durante a infância aparece de forma trágica. “Essa criança poderá ser um político corrupto, um fraudador, até um torturador físico ou emocional, chegando a um assassino em série”, diz Ana Beatriz.
Os especialistas afirmam que não se cura
transtorno de conduta, mas ele pode ser amenizado
No último domingo, um exemplo extremo ocorreu na Pensilvânia, Estados Unidos. Jordan Brown, de apenas 11 anos, deu um tiro na nuca da namorada do pai, grávida de oito meses. O menino chegou a conseguir enganar a polícia dizendo que uma caminhonete preta havia entrado na propriedade da família. Mas a arma foi encontrada em seu quarto. A polícia não entendeu a motivação do crime. “Há casos em que a explicação é simplesmente uma curiosidade mórbida”, afirma Ana Beatriz. “Todos nós, quando pequenos, temos essa curiosidade. Mas, por volta de 4 ou 5 anos, começamos a ter a percepção do outro. O que não acontece com quem tem o transtorno de conduta.” A falta de tratamento dessas crianças é, muitas vezes, consequência da ignorância ou da falta de recursos. Mas não só. A estrutura familiar de hoje, com pais trabalhando fora o dia todo e com tendência a dar poucos limites aos filhos, favorece o desenvolvimento do transtorno de conduta. Qualquer criança que não é repreendida pelo pais sobre seus erros tende a crescer pouco civilizada. Se ela tem uma tendência antissocial, não haverá amarras para esse comportamento.
O relato de um psiquiatra do Rio Grande do Sul mostra quanto é difícil pais assumirem a necessidade de tratamento dos filhos. Em 2008, ele teve como paciente R., de 11 anos. A menina colocara fogo na mochila de uma colega de turma. Repreendida por professores e pais, teve como reação apenas rir. No ano anterior, fizera o mesmo com o rabo do cachorro de uma prima. Questionada, disse apenas que a prima não merecia ter um cachorro. Durante o tratamento, R. afirmou ao psiquiatra que não nutria nenhum sentimento especial em relação aos pais.“Ela tinha um olhar frio e uma ironia extremamente precoce para sua idade. Não sentia culpa. R. me tratava como um empregado”, diz o psiquiatra. Depois de um ano de tratamento, os pais acharam que ela estava melhor e poderia interromper as sessões. “Ela os manipulou – e disse a mim, explicitamente, que fingiria estar melhor e conteria seus atos. Contei a eles, mas não acreditaram em mim”, afirma. R. jamais voltou a seu consultório.

Um comentário:

Rouberval Barboza disse...

Casos isolados... Continuo acreditando na interferência do meio em que se vive. Claro, há pessoas que nascem com algum transtorno Psíquico ou adquirem no decorrer de suas vidas por vários motivos. Entretanto, são raros os casos comprovados de crianças com tal anomalia. Em Medicina costuma-se encontrar rótulos para tudo, rótulos que a própria Psiquiatria não consegue explicar exatamente o que é.