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Freud, ao relatar a experiência
com um dos netinhos de 18 meses, registra que no início da fase primitiva, a
criança e a mãe são fusionadas. Pouco a pouco irá iniciando o processo da
diferenciação. Ele ilustrou essa descrição após assistir à criança brincando de
aparecer e desaparecer com um carretel amarrado a um cordão “FORT DA”: é a
magia de tornar “presente” o “ausente”, o início do processo de simbolização.
No entanto, para ele, a capacidade de representação mental é individualizada.
A criança, em sua fase primitiva,
é atravessada pelo desejo e pela palavra do outro. Para Freud, no primeiro
tempo de Édipo, a criança fusionada à mãe exclui o pai. No segundo tempo, vem a
angústia de castração. O pai, que foi reconhecido como parte da triangulação, é
visto como repressor, ciumento e rival, o que provocará muita angústia ao
filho.
No entanto, é a representação
paterna que exerce função estruturante e fundadora do sujeito psíquico. Nesse
lugar, se a metáfora paterna não for introjetada e registrada, seja pela
forclusão, pelo procedimento violento ou negação da paternidade, advirá um
caos, um vazio na psique do filho.
Para Freud, no processo a seguir,
se os relacionamentos forem normais, com a triangulação mãe/pai/filho(a), a
criança estará ultrapassando a fase do Édipo e desejará ser como o pai. Mas que
significado dessa figura estará internalizado? Bom ou mau? Será que a mãe o
forcluiu ou concedeu a esse pai o direito de exercer a paternidade, uma vez
que, mesmo em sua ausência, poderá ser evocado? Segundo Freud, “as experiências
dos cinco primeiros anos de uma pessoa exercem efeito determinante sobre sua
vida” (FREUD, 1976, p.149).
De acordo com Laplanche e
Pontalis, quando os significantes forem forcluídos (termo de Lacan), não serão
integrados ao inconsciente do sujeito. Não retornarão do interior, mas em forma
de alucinação. O próprio surto psicótico poderá ser um esforço de
reconstituição dos fragmentos do ego. Processo esse que nos foi bem ilustrado
em uma das aulas de Psicopatologia II, quando trabalhamos a partir da análise
do filme EQUUS.
O enredo do filme nos fez ver uma
mãe, um filho e o pai forcluído, ou anulando-se a ele próprio. Ela, evitando
contatos sociais para o filho, tinha uma verdadeira obsessão religiosa, seu
assunto preferido para conversar, inclusive mencionando que os olhos de Deus
estão nos vigiando. Ao invés de permitir a intercessão do marido, enaltecia o
seu irmão, preferindo manter o filho infantilizado e submisso. Todos esses
fatores criaram no jovem o quadro e o ambiente propícios ao surto psicótico, o
que, em decorrência, aconteceu na primeira investida de individuação.
Esse tipo de sintoma, para
Pontalis e Laplanche, seria uma tentativa secundária de restaurar os laços
objetais, uma vez que no psicótico há um vazio de significação, uma negação da
dor, um caos existencial e uma realidade interna dividida. “A causa
precipitadora de um surto psicótico é ou que a realidade tornou-se
insuportavelmente penosa ou que os instintos se tornaram extraordinariamente
intensificados” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 231).
Em um sujeito psicótico, mesmo
que tenha sido negado ao pai intervir na triangulação amorosa, para Freud não
implica não ter uma história de certa forma edípica. A essência da questão é
que esta vivência foi muito fragilizada, de forma a não produzir uma metáfora
do tipo neurótico estruturante.
Como resultado, advirá um ego
imaturo, sem a internalização simbólica de limites. Quanto à diferenciação,
pelas atitudes evidenciadas denota-se um sujeito em estado psíquico
enfraquecido, desestruturado e /ou dominado pelo desejo da mãe.
Independentemente dos fatores
orgânicos, tanto o fator educativo como o genético e o de relação materna
primária revelam-se, para Bergeret, como fatores de extrema importância na
estruturação da psique infantil. “Uma mãe hiperprotetora, estando sempre
presente, não permitindo à criança alcançar o registro do desejo. Uma mãe
ausente que induz à espera penosa e as representações do desejo” (BERGERET,
2004, p.169).
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