segunda-feira, março 18, 2013

Consciência Fonológica


A Consciência Fonológica é a capacidade de se refletir sobre a estrutura sonora da fala. É uma habilidade considerada importante para a aquisição da leitura e da escrita, pois a reflexão explícita do aspecto sonoro e segmentar da linguagem oral promove melhor compreensão da relação fonema-grafema. Isso justifica a necessidade da criança em adquirir um nível de Consciência Fonológica anteriormente ao processo formal de alfabetização, o que pode ser feito por meio de situações lúdicas, principalmente nas séries da Educação Infantil. O desconhecimento por parte dos educadores do que é Consciência Fonológica e de sua relação com a alfabetização pode comprometer o desenvolvimento e a evolução dessa habilidade na criança. 


Estudos científicos:

A influência da CF na aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita tem sido estudada por muitos investigadores. Estes colocaram questões e encontraram respostas fundamentadas em dados estatísticos e resultados significativos, os quais justificaram o empreendimento da investigação nesta área por várias décadas e até aos nossos dias.


1. A consciência fonológica melhora o desenvolvimento da leitura e escrita?
Esta questão foi alvo de inúmeros estudos tendo-se estabelecido os seguintes pressupostos:
É o mais estável e robusto preditor de sucesso na aprendizagem da leitura e escrita (Lonigan, Burgess & Anthony, 2000 cit por Hogan, Catts & Little, 2005); 
É um facilitador na aprendizagem da leitura e escrita de crianças com e sem dificuldades de aprendizagem (Ball & Blanchman, 1991; Barrera & Maluf, 2003; Bradley & Bryant, 1983; Byrne & Frielding-Barnsley, 1989; Calfee, Lindamood & Linda Mood, 1973; Capovilla, 2000; Capovilla & Capovilla, 2000 cit. por Melo, 2006; Cardoso-Martins, 1991, 1995; Cunnigham, 1990; Ehri et al., 2001; Hatcher, Hulme & Snowling, 2004; Juel, Griffith & Gough, 1986; Hatcher & Hulme, 1999 cit. por Santos & Maluf, 2007; Liberman, et al, 1974; Lundberg, Frost & Petersen, 1988; Nancollis, Lawrie & Dodd, 2005; Pestum, 2005; Scanlon & Vellutino, 1996; Vellutino & Scanlon, 1987, entre outros cit. por Bernardino, Freitas, Souza, Maranhe & Bandini, 2006; Santos 2004 cit. por Santos & Maluf).

2. Há diferenças entre a aplicação do treino da consciência fonológica antes ou depois do processo de alfabetização?

Esta hipótese foi levantada em estudos que possuíam amostras com pré e pós leitores, isto é, crianças do pré-escolar e crianças que já tinham iniciado o processo de alfabetização. As conclusões diferem entre os autores, tal como se observa nos estudos abaixo enunciados:
De acordo com Schneider (1997) e Lundberg, Frost e Petersen (1998), a intervenção pode já ser realizada em crianças do pré-escolar (Santos & Maluf, 2007);
Segundo Hatcher e Hulme (1999), a intervenção obtém resultados mais significativos se o treino da CF for conjugado com o ensino institucional da leitura (Santos & Maluf, 2007);
No estudo de Santos (2004), o autor refere que, apesar de haver benefícios na articulação entre as capacidades metafonológicas e as atividades de ensino de leitura e escrita, tal relação é facultativa (Santos & Maluf, 2007). 

3. A intervenção ao nível da CF dá acesso direto ao conhecimento do princípio alfabético?

Resultados de investigações reforçam a ideia de que o treino de CF, por si só, não permite às crianças o domínio do princípio alfabético.
O estudo de Byrne e Fielding-Barnsley (1991) concluiu que  o conhecimento das letras e da identidade dos fonemas são capacidades necessárias, embora insuficientes, para a aquisição do princípio alfabético (Santos & Maluf, 2007);
Segundo Torgesen, Morgan e Davi (1992), o conhecimento de que as palavras são constituídas por fonemas não assegura a compreensão do princípio alfabético (Santos & Maluf, 2007).

4. Todas as capacidades da CF influenciam, igualmente, a leitura e a escrita?

Vários estudos têm procurado identificar diferenças na influência que cada uma das capacidades da CF tem na aprendizagem da leitura e escrita. Embora os resultados dos estudos não sejam unânimes, parece prevalecer a ideia de que a consciência fonémica é aquela que mais influencia esta aprendizagem.
No estudo de Hohn e Ehri (1983) foram implementados dois programas de treino de consciência fonêmica  Os resultados revelaram que a associação dos fonemas aos grafemas favorece a aquisição de um sistema visual símbolo-som, que é usado pela criança na distinção e representação dos fonemas (Santos & Maluf, 2007);
Cunningham (1990) investigou o papel da instrução implícita e explícita no treino da CF, com o intuito de averiguar a influência das capacidades fonológicas na melhoria das capacidades leitoras. Os resultados desta investigação indicaram que as crianças podem adquirir capacidades de consciência fonêmica através de ensino direto (explícito) e que a consciência fonêmica influencia as capacidades de leitura (Santos & Maluf, 2007);
Wise, Ring e Olson (1999) revelaram que as metodologias que contemplam, não só a manipulação dos sons, mas também a consciência articulatória (atenção explicita à articulação), resultam em melhorias mais acentuadas na leitura e escrita, comparativamente a metodologias que contemplem apenas uma área (Santos & Maluf, 2007);
De acordo com o estudo de Cardoso-Martins (1996) concluiu-se que a aliteração contribui para a aprendizagem da leitura e da escrita. Por outro lado, a sensibilidade à rima, aparentemente, não exerce um papel fundamental no domínio do princípio alfabético, por parte das crianças brasileiras (Melo, 2006);
Goswami & Bryant (1997) postularam que a capacidade para detectar rimas e aliterações são fatores preditivos do sucesso na aprendizagem da leitura e escrita (Nascimento, 2009);
Diferentes autores consideram que a análise fonológica, ao nível da sílaba e em tarefas de aliteração, assumem uma importância particular na aquisição da leitura e da escrita (Capovilla, Colorni, Nico, & Capovilla, 1995; Correa, 1997; Correa, Meireles, & Maclean, 1999; Maluf & Barrera, 1997 cit. por Melo, 2006).

5. A influência da CF na melhoria da leitura e escrita também se aplica a casos de insucesso escolar ou a crianças com deficiência?

Estudos comprovam que existem benefícios no treino desta capacidade em casos de insucesso escolar e em determinadas patologias, como Trissomia 21, Dislexia e Perturbações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem.
Cardoso-Martins (1996) empreendeu um estudo em que era trabalhada a capacidade de detecção de rimas em crianças e adultos com e sem Síndrome de Down, tendo-se concluído que para ambos os grupos a capacidade de identificação do fonema inicial foi benéfica para a aprendizagem da leitura e escrita (Santos & Maluf, 2007);
Estudos conduzidos por Cárnio e Santos (2005) revelaram que a intervenção ao nível da CF, mesmo em casos de insucesso escolar grave, melhora significativamente a leitura e escrita (Santos & Maluf, 2007).

3 comentários:

JOSÉ MOURA disse...

INÊS, PODES PUBLICAR A BIBLIOGRAFIA DESTE TEXTO/ARTIGO, POR FAVOR. GOSTAVA MUITO DE LER ALGUNS DOS AUTORES CITADOS NESTE ARTIGO.

OBRIGADO

PS: ESTÁ GENIAL :)

Unknown disse...

Olá José Moura segue bibliografia solicitada...obrigado por acessar o blog!
Bibliografia
Alves, D., Freitas, M. J., & Costa, T. (2007). PNEP - O conhecimento da Língua: Desenvolver a consciência fonológica. Lisboa: Ministério da Educação
Bernardino, J. J., Freitas, F. R., Souza, D. G., Maranhe, E. A., & Bandini, H. H. (2006). Aquisição da leitura e escrita como resultado do ensino de habilidades de consciência fonológica. Revsita Brasileira de Educação Especial , pp. 423-450.
Bernstein, D. K., & Tiegerman-Faber, E. (2002). Language and Communication Disorders in Children. Allyn and Bacon.
Duarte, I. (2000). Língua Portuguesa: Instrumentos de Análise . Lisboa: Universidade Aberta.
Freitas, G. C. (2004). Sobre a consciência fonológica. In R. R. Lamprecht, Aquisição Fonológica do Português: Perfil de Desenvolvimento e Subsídios para a Terapia (pp. 177-192). Porto Alegre: Artmed.
Gamelas, A. M., Leal, T., Alves, M. J., & Grego, T. (s.d.). Contributos para o Desenvolvimento da Literacia: Clube de leitura. Obtido de http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/documentos/ot_clube_leitura_a.pdf
Hogan, T. P., Catts, H. W., & Little, T. D. (Outubro de 2005). The relationship Between Phonological Awareness and Reading Implications for the Assessment of Phonological Awareness. Language, Speech and Hearning Services in Schools , pp. 285 - 293.
http://office.microsoft.com/pt-pt/clipart/default.aspx?ver=12&app=winword.exe
Lane, H. B., & Pullen, P. C. (2004). A Sound Beginning: Phonological Awareness Assessment and Instruction. USA: Pearson Education, Inc.
Lopes, F. (Dezembro de 2004). O desenvolvimento da consciência fonológica e sua importância para o processo de alfabetização. Psicologia Escolar e Educacional , pp. 241-243.
Maluf, M. R., Zanella, M. S., & Pagnez, K. S. (2006). Habilidades Metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Boletim de Psicologia , pp. 67-92.
Mateus, M. H., Falé, I., & Freitas, M. J. (2005). Fonética e Fonologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta.
Melo, R. B. (2006). A relação entre consciência fonológica e aquisição da leitura e da escrita de jovens e adultos. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Moreira, V., Pimenta, H., & Marques, M. A. (2008). Gramática de Português. [s.l.]: Porto Editora.
Nancollis, A., Lawrie, B. A., & Dobb, B. (Outubro de 2005). Phonological Awareness Intervention and Aquisition of Literacy Skills in Children from Deprived Social Backgrounds. Language, Speech and Hearing Services in Schools , pp. 325-335.
Nascimento, L. C., & Knobel, K. A. (2009). Habilidades Auditivas e Consciência Fonológica: da teoria à prática. São Paulo: Pró-Fono.
Nunes, C., & Frota, S. (2006). Audio Training: Fundamentação teórica e prática. São Paulo: AM3 Artes.

Unknown disse...

Pestun, M. S. (2005). Consciência fonológica no início da escolarização e o desempenho ulterior em leitura e escrita: estudo correlacional. Estudos de Psicologia , pp. 407-412.
Rohl, M., & Pratt, C. (1995). Phonological awarness, verbal working memory and the acquisition of literacy”. Reading and Writing: An Interdisciplinary Journal , pp. 327-360.
Rvachew, S., Chiang, P.-Y., & Evans, N. (Janeiro de 2007). Characteristics of Speech Errors Produced by Children With and Without Delayed Phonological Awareness Skills. Language, Speech, and Hearing Services in Schools , pp. 60-71.
Santos, M. J., & Maluf, M. R. (Janeiro-Junho de 2007). Intervenções em consciência fonológica e aprendizagem da linguagem escrita. Boletim Academia Paulista de Psicologia , pp. 95-108.
Schuele, C. M., & Boudreau, D. (Janeiro de 2008). Phonological Awareness Intervention: Beyond the basics. Language, Speech and Hearing Services in Schools , pp. 3-20.
Sim-Sim, I. (1998). Do uso da linguagem à consciência linguística. In I. Sim-Sim, Desenvolvimento da Linguagem (pp. 225-236). Lisboa: Universidade Aberta.
Smiley, L. R., & Goldstein, P. A. (1998). Language Delays and Disorders: From Research to Practice. San Diego: Singular Publishing.
Smit, A. B. (2004). Articulation and Phonology Resource Guide for School-Age Children and Adults. Nova Iorque: Thomson Delmar Learning.
Vale, A. P., & Caria, T. H. (1997). O uso racionalizado da cultura: o caso da relação entre a consciência metafonológica e a aquisição da leitura. Educação, Sociedade e Culturas , pp. 45-72.
Viana, F. L. (2006). As rimas e a consciência fonológica. Promovendo a competência leitora., (pp. 1-11). Lisboa.
Winson, B. (2007). Language Disorders Across the Life Span. USA: Thomson Delmar Learning.