Por: Maria Cristina Bromberg
O Método Panlexia é o primeiro
método construído segundo as características fonema x grafema do idioma
português falado e escrito no Brasil. É um método de orientação diagnóstica e
um programa abrangente de assistência pedagógica a pessoas com Dificuldades
Específicas de Linguagem. É o resultado de longos anos de pesquisas e
experiências compartilhadas por diferentes fontes de informação.
Dentre as primeiras influências
que alicerçaram a construção progressiva do Método Panlexia, destaca-se o
trabalho de um professor de linguística da Yale University, Leonard Bloomfield,
cujo filho era disléxico. Bloomfield formulou o conceito que "seria melhor
ensinar leitura a estudantes disléxicos, primeiramente, através da introdução
de elementos consistentes do idioma escrito e só então, depois de estabelecidas
essas conexões, ir acrescentando, aos poucos, os padrões menos comuns de
soletração". Essa forma de abordagem pedagógica foi chamada de "Linguística Estruturada". Desde
então (1933), muitos pesquisadores vêm investigando os inúmeros aspectos da Dislexia,
e diferentes programas remediativos de ensino têm sido publicados nos Estados
Unidos.
Já na década de 1960, o Dr. Jesse
Grimes, da Harvard University, foi convidado pela rede pública de ensino da
cidade de Newton, estado de Massachusetts, EUA, para investigar qual seria o
melhor dos três métodos de iniciação à leitura utilizados em programas de
ensino de leitura: fonético, visuo/global, linguístico estruturado.
Essa pesquisa incluiu 30 salas de
aula, envolvendo 10 classes em cada uma das três abordagens, e foi desenvolvida
com a seguinte orientação prognóstica: bons leitores, leitores de nível médio,
maus leitores. A avaliação dos resultados da pesquisa deixou claro que a
Leitura Linguística Estruturada obteve os melhores resultados em todas as categorias.
Entretanto, como nessa abordagem foram incluídos métodos específicos de ensino
desenvolvidos e supervisionados pelo Dr. Grimes, e não somente a técnica de
leitura segmentada em elementos linguísticos, seus resultados foram ignorados
na época.
Como consequência, não ficou
estabelecido o conceito de que o ensino da leitura em séries linguísticas era
mais eficiente em si, e por si mesmo. Ficou evidenciado, porém, que os métodos
de ensino de leitura desenvolvidos pelo Dr. Grimes eram a chave-mestra do grande
sucesso do Programa Estruturado em Leitura Linguística. Baseado nas
dificuldades de filho e neto disléxicos, o Dr. Grimes havia desenvolvido
métodos de ensino para ajudá-los no aprendizado da leitura. Entre suas várias
técnicas, está incluído o treinamento para desenvolvimento da consciência
fonológica, que somente nos últimos anos tem sido reconhecido por pesquisadores
respeitados como um componente-chave do sucesso alcançado no aprendizado de
leitura e soletração. As técnicas pedagógicas com base em ensino terapêutico em
linguística estruturada, em que está alicerçado o Método Panlexia, tiveram
comprovada sua eficiência para ensinar o disléxico, mais uma vez, em importante
trabalho de pesquisa desenvolvido pela Dra. Sally Shaywitz e sua equipe da Yale
University.
Pamela Kvilekval, educadora
especializada em Dificuldades de Aprendizado, fez parte do primeiro grupo de
profissionais treinados diretamente pelo Dr. Grimes para desenvolver o programa
de ensino diferencial para alunos com Dificuldades de Aprendizado da rede
pública de Newton, em 1968. Depois de três meses engajada nesse trabalho,
tornou-se sua assistente, supervisionando diretamente os professores de
Educação Especial. Após dois anos como assistente do Dr. Grimes e supervisora
do Curso de Instrução Terapêutica ministrado por ele, assistindo a mais de 200
disléxicos durante o ano escolar e em programas especiais de verão, Pamela foi
nomeada dirigente do Programa de Dificuldades de Aprendizado das Escolas
Públicas de Andover, no estado de Massachusetts, EUA. Essa indicação foi feita,
por membros do Departamento de Educação do Estado, depois que as técnicas de
ensino das escolas de Newton foram analisaram e avaliadas e o programa
terapêutico desenvolvido na rede de ensino declarado "Muito favorável".
Em paralelo, o Dr. Grimes também
capacitou seu grupo de educadores em técnicas de desenvolvimento e uso de
materiais, como recurso complementar do seu programa. Desprendido, nunca teve
interesse em formalizar o registro escrito desse trabalho. Por isso, quando um
manual de treinamento foi requerido para as escolas de Andover, o Dr. Grimes
autorizou e estimulou Pamela a escrever o Manual Básico, com 70 páginas, para
dar início ao treinamento de 15 membros do corpo docente das escolas. Esses
profissionais não eram formalmente especializados, mas compunham um grupo
comprometido com o ensino diferencial, motivados por estarem diretamente
envolvidos no ensino de crianças com dificuldades de aprendizado. E por isso,
estavam determinados a desenvolver um eficiente programa de apoio pedagógico
aos estudantes disléxicos em suas escolas.
Àquela época, não havia nenhum
programa de graduação universitária em Massachusetts para formar esses
especialistas. Com o passar dos anos, o Programa de Treinamento com estrutura fundamentada
nas características fonema x grafema do idioma inglês organizado por Pamela
evoluiu de 70 para 700 páginas, publicadas com o título: "Um Programa para
Dificuldades Específicas de Linguagem". Programa abrangente, que se
constitui, hoje, como base na formulação de muitos outros programas de
treinamento de profissionais em Dificuldades de Aprendizado, em diferentes
sistemas escolares.
Depois de 4 anos como Supervisora
em programas de Dificuldades de Aprendizado e 10 anos como Administradora em
Educação Especial, responsável por todos os programas de Educação Especial em
Andover, sob Leis Estaduais e Nacionais, Pamela se tornou Consultora em
Educação Especial na Itália. Desde 1986, é consultora em escolas internacionais
na Itália e supervisora de ensino diferencial para estudantes disléxicos.
Visto que na Itália não existia,
ainda, programas pedagógicos especializados em Dislexia, muitos médicos e
psiquiatras italianos encaminhavam crianças disléxicas para serem assistidas
pela equipe de Pamela. Por essa razão, ela acabou se impondo um verdadeiro
desafio: traduzir e construir seu programa de ensino dentro da base estrutural
fonética do idioma italiano. No início, teve que estabelecer a estrutura
linguística fonema x grafema do idioma o que foi mais simples de ser feito do
que estruturar o Programa em sua língua materna: o inglês. Isso porque a língua
italiana é pronunciada quase que exatamente da mesma forma como é escrita.
No
início desse trabalho, Pamela desenvolveu listas de palavras para as lições de
cada dia. Na evolução progressiva da formulação do método, as listas precisas
de palavras e de exercícios de ditado passaram a ser agrupadas em manuais. Só
faltava criar histórias com o componente essencial de adequar-se a cada uma das
lições, seguindo as características da estrutura linguística do idioma
italiano.
Embora houvesse livros de leitura
linguisticamente estruturados para serem utilizados em programas em inglês, não
existia nenhum livro semelhante em italiano. Nelly Melone, mãe de um dos
estudantes disléxicos de Pamela, se propôs a criar as histórias. "Le
Storie di Zia Lara" foi publicada como um encarte do "Il Método
Panlexia". São esses livros que compõem o primeiro programa educacional
terapêutico de assistência pedagógica ao disléxico publicado na Itália. Era o
ano de 1998.
Hoje, a Itália está na segunda
publicação do Programa IL MÉTODO PANLEXIA, que continua sendo o único programa
publicado naquele país. Professores, psicólogos e terapeutas da fala têm sido
treinados, através de toda a Itália, nos seguintes cursos de Pamela Kvilekval:
REABILITAÇÃO DA DISLEXIA - IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DAS DIFICULDADES DE
APRENDIZADO - REABILITAÇÃO DA DISCALCULIA - ORIENTAÇÃO PARA PAIS DE CRIANÇAS
COM DIFICULDADES POR DEFICIÊNCIA DE ATENÇÃO.
Além do programa “Il Método
Panlexia”, Pamela desenvolveu uma versão italiana do "Preschool Screening
System", de Peter Hainsworth e Marian Hainsworth, publicado em 2002.
Trata-se de um programa de identificação precoce de diferentes dificuldades em
crianças entre 2½ a 6½ anos, através de sintomas e sinais característicos que
as predispõem a apresentar dificuldades em seu aprendizado escolar. Crianças
que, integradas precocemente em adequado programa pedagógico preventivo, em sua
maioria poderão vir a superar essas dificuldades.
Com permissão dos autores, Pamela
estruturou uma nova versão do Preschool Screening System, publicado em língua
portuguesa sob o titulo “Sistema de Avaliação Precoce – o PSS” pela própria
autora, em parceria com o Centro de Neuropediatria do Hospital de Clinicas da
Universidade Federal do Paraná. Esse instrumento de avaliação está sendo
validado e normatizado através de duas pesquisas de mestrado e uma pesquisa de
doutorado.
Nos últimos anos, Pamela
Kvilekval foi eleita para o Conselho Diretor da Associazione Italiana
Dislessia. Essa organização está representada em mais de 50 cidades da Itália e
Pamela é o único membro do Conselho Diretor a não ter nacionalidade
italiana. Em co-autoria com outros
membros da Associazione, escreveu dois pequenos livros estabelecendo
fundamentação teórico-prática para apoiar o trabalho do professor em sala de
aula.
O Método Panlexia foi introduzido
no Brasil, em Curitiba, Paraná, no ano de 2004, através de dois eventos
patrocinados pelo Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná, pela Secretaria Municipal da Educação de
Curitiba e pela Associação Brasileira de Apoio ao Disléxico, de Curitiba.
O primeiro, foi um simpósio que
contou com a presença de profissionais e interessados vindos de todos os
estados brasileiros. O segundo, um curso de formação sobre o método para 90
profissionais das áreas da Educação e da Saúde.
Durante a prática pedagógica do curso, foram trabalhados mais de 50
disléxicos, de diferentes idades e diferentes níveis de dificuldades. As
respostas, bastante positivas, confirmaram, também na língua portuguesa, a
eficiência já alcançada pela metodologia nas línguas inglesa e italiana.
Em 2010, com a colaboração de
profissionais brasileiras, Pamela fez uma revisão do material publicado em 2004
e publicou uma edição atualizada e ampliada da metodologia, a que chamou de
Panlexia Plus. Essa nova edição levou em consideração a reforma na ortografia
do português, assim como a experiência acumulada pelos profissionais durante os
anos de prática no Brasil.
PORQUE A PANLEXIA REALMENTE
FUNCIONA?
A PANLEXIA INCLUI A ESTRUTURA, AS
ATIVIDADES E OS MÉTODOS DE ENSINO QUE
SEGUEM OS PRINCÍPIOS PARA ENSINAR
DISLÉXICOS A LER E ESCREVER.
Aqui está a razão do sucesso:
1. O método é fonológico, estrutural e propicia
bastante reforço para cada elemento da linguagem escrita, de modo a assegurar
respostas automáticas.
2. As
atividades utilizam todos os sentidos envolvidos na leitura e na escrita: o
visual, a motricidade fina, a percepção auditiva e a consciência fonêmica,
incluindo a consciência de sensações tácteis durante a pronúncia dos sons.
3. As
listas estruturais de palavras promovem:
- a habilidade de decodificar,
porque mudam apenas uma letra na palavra por vez, induzindo a pessoa, portanto,
a seguir cuidadosamente a sequência das letras;
- um sentido de ritmo que
desenvolve a habilidade de associar o som da sílaba e a sequência dos símbolos
(associação fonema-grafema) que representam as letras;
- o reconhecimento da palavra
devido às similaridades de cada palavra;
- o reforço da memória visual de
cada novo elemento.
4.
Escrever cada palavra após a leitura da lista (adaptada para a idade e
capacidade):
- reforça o aprendizado da
palavra.
- envolve a Memória Sinestésica,
ajudando a desenvolver a escrita automática de cada palavra.
- ajuda na compreensão da
sequência das letras na palavra, porque as letras devem ser escritas uma a uma
dentro de uma sequência. Isso dá à
pessoa tempo para perceber todas as sensações na boca e nas cordas vocais que
se tem durante a escrita da sequência de letras.
- visto que cada lista de
palavras apresenta somente um novo elemento a ser reforçado, a escrita repetida
desse elemento induz a lembrança automática de cada novo elemento.
- escrever as listas de palavras
em colunas enfatiza o novo padrão/elemento porque fica mais evidente que
palavras escritas em linha.
5. O
exercício de mudar a letra reforça a consciência fonológica da sequência de som
que segue a sequência de símbolos.
6. A
leitura das sentenças :
A. Permite a prática da leitura
das palavras
B. Ajuda na compreensão das
palavras, porque elas são usadas em contexto.
C. Proporciona uma revisão das
palavras já aprendidas.
D. Melhora a memória visual das
palavras novas e das previamente aprendidas.
7.
Escrever as sentenças:
A. Pratica usar a memória
auditiva de curto prazo quando o aluno repete a sentença.
B. Permite maior prática do novo
elemento.
C. Melhora o vocabulário: o uso
de novas palavras nas sentenças ajuda a lembrar o significado da palavra.
D. Permite a prática das
habilidades da escrita e proporciona oportunidade de ensinar, se necessário, o
motivo e a lógica dos sinais diacríticos e da pontuação, como apóstrofe,
vírgula, contrações, ponto de interrogação e as palavras homófonas.
E. Ensina o aluno a verificar
cuidadosamente cada palavra e pontuação na sentença e a ler a sentença após
escrevê-la, a fim de fazer as necessárias correções antes de dizer que o
trabalho está completo. Resumindo,
aprender a revisar seu trabalho, uma prática valiosa para todos, mas essencial
para pessoas disléxicas e disgráficas.
8. A leitura de histórias:
A. Proporciona a prática de todos
os elementos anteriores.
B. Proporciona a prática da
leitura normal – horizontal, da esquerda para a direita.
C. Proporciona uma razão para
ler.
D. Melhora o vocabulário. Ler as palavras em contexto ajuda a
internalizar o significativo básico, assim como a compreensão do significado
das palavras em diferentes contextos.
E. Induz a uma sensação de
satisfação com a leitura, pois o aluno pode ler sem dificuldade e pode entender
tudo o que está lendo, porque cada história contém elementos nas palavras que
já estão automatizados ou, pelo menos, ele pode decodificar.
F. Desenvolve o conceito de
“Imagem Mental” para melhorar a compreensão de material escrito.
9. O
resumo, oral ou escrito:
A. Melhora a habilidade em
desenvolver um resumo oral de material escrito.
B. Proporciona a prática de
desenvolver resumos escritos de material escrito.
C. Desenvolve a habilidade em
extrair os pontos importantes de uma massa de informações, essencial para tomar
notas em sala de aula ou para tarefas de casa.
10. Os
métodos de ensino são indutivos e não didáticos. Ao invés de regras, o aluno recebe muitos
exemplos de cada novo elemento a ser aprendido, de modo que a associação do som
e do símbolo se torna automática – como o é para leitores regulares.
Fonte: http://cenephc.com.br/jornada/panlexia-historico-do-metodo-e-da-autora.html
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