A valorização do tudo-sei pela repressão do não-saber.
Chafic Jbeili (24/11/2008)
"Tudo  que sei, é que nada sei". Com esta afirmativa, Sócrates foi tido como  falso-modesto. Suas explicações sobre a vida, o céu e a Terra; e tudo  que havia entre estes não condizia com o nada-sei socrático. O sábio  filósofo, entretanto, não fazia esta afirmativa em cima do que estava  cônscio saber, muito menos sobre um saber natural, mas daquilo que ele  sabia não saber.
Quando  Sócrates recebeu do oráculo, o título de homem mais sábio de sua época  resolveu averiguar se era realmente merecedor deste título. Se ele fez  isto por puro narcisismo, por baixa auto-estima ou por mera curiosidade,  não importa, a verdade é que, o jovem foi a campo pôr à prova o mérito  recebido: 
Sócrates  arguiu os célebres sofistas, os ecléticos políticos, os eloqüentes  poetas e até os habilidosos artesãos. Todos não souberam explicar o que  aparentavam dominar, era um domínio artificial ou natural e espontâneo.  Foi então que Sócrates chegou à conclusão que, é mais sábio o homem que  tem consciência daquilo que não sabe, do que aquele que julga ser  sabedor de alguma coisa. 
Quantas  pessoas não se enaltecem por causa de um dom ou habilidade como se  tivessem plena consciência daquilo que fazem sem saber explicar como  souberam fazê-lo? Afirmam-se no suposto saber e não admitem estarem  equivocados ou ter necessidade de saber mais. Não dão o braço a torcer!  Sustentam suas idéias e opiniões até o último momento e depois dizem que  o problema está no receptor e não no transmissor ou na própria  mensagem. 
É  na infância que o "não sei" começa ser reprimido pela negligência e  impaciência dos pais aos "porquês" dos filhos. Na verdade, não é a  curiosidade do filho que incomoda, mas a situação de ter o não-saber  parental sendo provocado, revolvido eu diria.
É  na escola que esta repressão ganha respaldo científico, pela  valorização do "tudo sei". A cultura da prova e da avaliação  quantitativa conduz a este pensar pouco construtivista. Aos debilitados,  desatentos, desprivilegiados de memória, resta a infame "cola" escolar,  semente do plágio acadêmico na universidade que se transformará na  árvore da falsidade ideológica.
Quão  mal pode fazer ao ego imaturo admitir a própria ignorância, o próprio  não-saber? Valorizar o não-saber ao invés de se gabar de um saber  natural ou de uma boa memória é uma demonstração de sabedoria e não de  incompetência.
Por  quê exatamente algumas pessoas temem dizer "eu não sei"? Medo de serem  reprovadas nos testes? Ridicularizadas? Rejeitadas? Desrespeitadas? Eu,  Chafic, realmente não sei.
É  incrível como as pessoas elaboram respostas e manipulam palavras com a  habilidade de um orador, político, poeta ou de um artesão na vã  tentativa de tentar explicar o inexplicável ou aquilo que não se sabe  ou, ao menos, mal consegue admitir não saber. O conselho oriental  adverte: "Aquele que não sabe e não sabe que não sabe, ignora-o. Aquele  que não sabe e sabe que não sabe, ensina-o. Aquele que sabe e sabe que  sabe, siga-o!".
A  melhor e mais sábia resposta ante um eventual não-saber é sempre um  simples "eu não sei"; não como falsa modéstia, mas como expressão da  verdade, naquele momento – E a verdade com amor, é sempre a expressão de  respeito para com o outro – Reaprenda dizer "eu não sei"; em respeito  ao outro, em respeito a você mesma e, experimente o poder do não-saber! 
Como  você vai fazer isso? Eu realmente não sei! Simplesmente experimente não  ter que demonstrar saber tudo, inclusive o que julga saber.
Chafic Jbeili - www.chafic.com.brchafic@chafic.com.brPsicanalista e psicopedagogo
Presidente Sopensar - sopensardf.blogspot.com
Diretor-executivo ABMP/DF - www.abmpdf.com
CRPA-0603-04
 
 
 
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