quinta-feira, maio 30, 2013

TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO (TGD)

O que são os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)?
Paula Nadal (paula.nadal@fvc.org.br)


Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades.

Os TGD englobam os diferentes transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett.

Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.

Com relação à comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.

Como lidar com o TGD na escola?

Crianças com transtornos de desenvolvimento apresentam diferenças e merecem atenção com relação às áreas de interação social, comunicação e comportamento. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária.

Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação.

Apresentar as atividades do currículo visualmente é outra ação que ajuda no processo de aprendizagem desses alunos. Faça ajustes nas atividades sempre que necessário e conte com a ajuda do profissional responsável pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE). Também cabe ao professor identificar as potências dos alunos. Invista em ações positivas, estimule a autonomia e faça o possível para conquistar a confiança da criança. Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento.

http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/transtornos-globais-desenvolvimento-tgd-624845.shtml


Plano de Atendimento Educacional Especializado para aluno TGD
Olá Pessoal, através de pesquisas sobre o trabalho educativo com crianças que apresentam TGD - Transtorno Global do Desenvolvimento, adequei esse Plano de Ação Pedagógica para aplicá-lo com minha educanda na Sala de Recursos Multifuncional.
Socializo com vocês, para quem possa interessar.
ESCOLA BÁSICA PREFEITO ALBERTO WERNER
PROFESSORA DO AEE: ANDRÉA REGINA MARQUES PADILHA.
PLANO DO AEE PARA EDUCANDA COM TGD - 2012

NOME: I.S.C
IDADE: 07 ANOS      SÉRIE: 2º ANO     TURNO: VESPERTINO
PROFESSORA DO AEE: ANDRÉA PADILHA – AEE
PROFESSORA DO ENSINO REGULAR: M.  L.
AGENTE: M.

OBJETIVO GERAL
Proporcionar à educanda a possibilidade de relacionar-se com conteúdos acadêmicos e conceitos básicos condizentes com sua faixa etária, objetivando aprimorar seus conhecimentos pré-adquiridos, visando sua maior independência e autonomia nas atividades de vida diária e favorecendo a comunicação e adequação de seu comportamento nas diversas situações sociais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

a) ACADÊMICOS
A aluna deverá ser capaz de:
·Segurar objetos;
·Realizar encaixes em eixos fixos;
·Interessar-se por brinquedos;
·Associar escova de dentes à atividade de escovação;
·Associar colher à atividade de lanche;
·Associar bolinha à atividade de estimulação;
·Associar copo à atividade de beber água;
·Segurar giz de cera, apresentando boa preensão;
·Apresentar movimento de pinça;
·Realizar atividades de pintura sem limites;
·Participar de atividades de colagem com diversos tipos de materiais, com diferentes texturas;
·Interagir em atividades envolvendo cores primárias;
·Manipular formas geométricas: círculo, quadrado e triângulo;
·Identificar as partes do corpo humano (cabeça, tronco e membros);
·Interessar-se por livros de histórias infantis;
·Manusear massa de modelar;
·Discriminar fonte sonora;
·Demonstrar sensação ao manusear texturas;
·Interagir com outras crianças;
·Imitar movimentos de bater palmas;
·Imitar movimentos de fazer tchau;
·Imitar movimentos de mandar beijo;

B) COMPORTAMENTAIS
A aluna deverá ser capaz de:
·Pedir água;
·Obedecer a ordens simples;
·Esperar sua vez durante as atividades;
·Reduzir comportamento de jogar objetos ao chão;
·Permanecer sentada durante 15 minutos;
·Direcionar a atenção para a tarefa;
·Diminuir exploração sensorial (colocar objetos na boca);
·Reduzir comportamento de gritar e automutilação quando frustrada;
·Reduzir a destrutividade nos momentos de realização das atividades;
·Reduzir agitação enquanto realiza atividades.
·Nos momentos de agitação, oferecer dicas verbais e/ou gestuais para que a aluna atente-se para a atividade que estava sendo realizada;
·Confeccionar atividades que sejam do interesse da aluna, para que permaneça sentada durante maior período de tempo;

C) OBJETIVOS PARA COMUNICAÇÃO
A aluna deverá ser capaz de:
·Pedir o que quer;
·Expressar-se com apoio dos cartões concretos;
·Pedir ajuda.

D) OBJETIVOS PARA ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA
A aluna deverá ser capaz de:
·Caminhar corretamente ao lado da professora;
·Caminhar em ritmo apropriado;
·Sentar-se corretamente durante o lanche;
·Mastigar corretamente os alimentos;
·Alimentar-se com independência;
·Escovar os dentes com independência;
·Lavar as mãos;
·Secar as mãos;
·Despir-se com independência;
·Vestir-se com independência;

ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO:
Período de Atendimento:  Durante todo o 2º Semestre
Frequência: 1 vez na semana – Toda segunda-feira
Tempo de Atendimento: 1 hora – Das 10:40h  às 11:40h.

Composição do atendimento: Individual / Em momentos que se fizer necessário à professora do AEE convidará  1 ou 2 alunos do programa Segundo Tempo para participarem da atividade com a educanda.

CONTEÚDOS
LINGUAGEM ORAL E ESCRITA:
·Nome próprio;
·Expressão oral;
·Formas de comunicação;
·Leitura e apreciação de histórias;
·Músicas.

CONHECIMENTO LÓGICO - MATEMÁTICO:
·Cores;
·Formas geométricas;
·Texturas;

NATUREZA E SOCIEDADE:
·Sequência temporal;
·Convívio em grupo;
·Alimentação;
·Esquema corporal;

IDENTIDADE E AUTONOMIA:
·Higiene pessoal (bucal, e durante as refeições);
·Independência na realização das A.V.Ds;
·Socialização.

MOVIMENTO E EXPRESSIVIDADE:
·Rasgadura;
·Colagem;
·Pintura livre;
·Coordenação viso-motora e motora fina;

ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS:

ATIVIDADE DE CUMPRIMENTOS, BOM DIA E DESPEDIDA DA MÃE:
Todos os dias ao chegar para o atendimento realizar a atividade de chegada sendo trabalhados alguns conceitos: primeiro cumprimentos (OLÁ, BOM DIA, ABRAÇO NA PROFE...), OUVIR SEU nome e nome da mamãe, despedida da mãe (TCHAU, ACENO COM A MÃO)

ATIVIDADE DE CHEGADA:
Diariamente sentar na mesinha e através de CARTAZ DO TEMPO/ PAINEL DE BOM DIA participar da identificação do tempo (sol, chuva, nublado) e socialização com a professora da ficha adequada. A atividade será realizada através de música cantada pela professora e aluna e da utilização do painel do bom dia, no qual a aluna deverá identificar seu nome e imagem e expressar como está o tempo por meio de figura. A atividade será realizada na mesinha. Duração de 20 a 30 minutos.
“BOM DIA I..........,
COMO ESTÁ O DIA ?
HOJE TEM/ ESTÁ …. (SOL/ CHUVA/ NUBLADO)

APRENDENDO: Esta atividade será realizada em qualquer momento que a aluna precisar de ajuda para executar uma tarefa, ou seja, quando a aluna está em processo de aprendizagem de um conteúdo acadêmico, bem como uma habilidade comportamental ou motora, sendo que a professora dará o auxílio necessário para que a aluna realize-a corretamente.

ESTIMULAÇÃO SENSORIAL: A atividade será realizada diariamente, na sala de aula ou no pátio da escola, com duração aproximada de 30 minutos. A aluna será estimulada em sua percepção tátil, visual e auditiva, através do uso de materiais diversificados. Serão trabalhadas também as habilidades de imitação, percepção e integração mãos e olhar.

VAMOS RABISCAR?: A atividade será realizada na mesinha de trabalho, quinzenalmente, com duração aproximada de 20 a 30 minutos. Serão oferecidas à aluna atividades em folha de sulfite ou cartolina, com utilização de diversos materiais, como giz de cera, tinta guache, pápeis diversos com diferentes texturas, cola colorida, entre outros, visando o contato inicial da mesma com esses materiais de trabalho.

COMUNICAÇÃO: A atividade será realizada na mesinha, com duração aproximada de 15 minutos, onde será estimulada a comunicação visual  através de diversos tipos de atividades, como leitura de livros infantis pela professora e manuseio pela aluna, fantoches e figuras variadas.

ATIVIDADE EM PEQUENO GRUPO: Atividade realizada na mesinha, com a participação de uma ou duas crianças, com duração aproximada de 30 minutos. Nessa atividade, serão oferecidos blocos de montar, bolas, jogos de encaixe, carros, bonecas, brinquedos diversos entre outros, favorecendo o lúdico e a interação com outras crianças. Todos os alunos participarão juntos da atividade.

ESPERAR: Momento no qual a aluna deverá permanecer no seu lugar (mesa de trabalho), enquanto espera para realizar uma atividade. Poderá ficar com algum objeto do seu interesse para evitar comportamentos inadequados devido à ociosidade.

LANCHE: Atividade realizada no refeitório, uma vez ao mês, com duração de 15 minutos. Utilizaremos os talheres adaptados.

ESCOVAÇÃO: A aluna terá alguns minutos destinados à sua higiene bucal, após o lanche, sendo que a mesma será estimulada a realizá-la com independência, podendo a professora auxiliar na aprendizagem tanto verbalmente quanto fisicamente, enquanto necessário.

MÚSICA: Atividade de ouvir, cantar, bater palmas no ritmo, seja em frente ao espelho seja em frente ao computador. Será realizada quinzenalmente na sala de recursos com a professora Andréa.

OUVIR MÚSICA: A atividade será realizada na sala. Serão colocados CDs de músicas infantis para que aluna aprimore a percepção auditiva.

TREINO DE RUA: Esta atividade tem como objetivo ensinar a aluna a caminhar de forma adequada na rua, desenvolvendo atenção e noção de perigo.

MATERIAIS UTILIZADOS:
Disponíveis na Unidade Escolar:
·Giz de cera
·Massa de modelar
·Cola
·Papel crepom
·Cola colorida
·Jogos pedagógicos
·Brinquedos diversos
·Livros infantis
·Instrumentos Musicais
·Caneta hidrocor
·Barbante
·Pasta de dente
·Escova de dente
·Sabonete
·Toalha

Necessitam ser adquiridos:
·Bolas de borracha;
·Brinquedos que produzem sons;
·Tinta guache;
·Folhas de sulfite e cartolina;
·EVA
·Velcro
·Pistola de cola quente
·Refis de cola quente
· Papel laminado
·Palito de sorvete
·Palito de fósforo
·Durex colorido

Necessitam serem produzidos:
· Chocalhos;
·Fichas de Comunicação Alternativa;
·Cartaz do Tempo/ Bom Dia

Adequações de materiais:
·Engrossadores de lápis;
·Talheres adaptados ( aquisição da EU em 2011)

PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS QUE RECEBERÃO ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA DO AEE:
·Professora de sala de aula;
·Agente de Atividade em Ed. Especial;
·Professora de Artes e Ed. Física;
·Colegas da turma;
·Equipe Técnico-pedagógica;
·Funcionários da escola (merendeiras, zeladoras)

AVALIAÇÃO
A observação e avaliação da educanda dar-se-á durante o desenvolvimento do trabalho, verificando-se os resultados que vão sendo alcançados, reestruturando os objetivos, se necessário.
O processo avaliativo será realizado mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento individual do aluno, conforme critérios pré-estabelecidos. Serão utilizados os seguintes critérios de AVALIAÇÃO para o AEE:

Níveis de respostas aos objetivos propostos no bimestre:
ALCANÇOU – A / COR VERDE (quando a educanda demonstrar  independência para tal objetivo, ou seja, houve a aprendizagem)

NECESSITA DE AUXÍLIO – N.A / COR AZUL (quando a educanda conseguir atingir em determinados momentos os objetivos propostos, porém somente com auxílio verbal e/ou gestual para a habilidade avaliada)

NÃO ALCANÇOU – N.A / COR LARANJA (quando a aluna necessitar de auxílio físico parcial ou total para a execução da atividade).

Referências Bibliográficas:
http://www.cedapbrasil.com.br/portal/modules/wfdownloads/

terça-feira, maio 28, 2013

Contos de Fada aliado ao diagnóstico psicopedagógico


Contos de fada – possível resolução para os conflitos infantis

Ao entrar em uma sala de aula com crianças de cinco anos, carregando um livro de contos de fadas, um professor carrega mais que um livro. Mais que um simples conto. Quando o professor é um bom contador de histórias, o olhar daquelas crianças fica fixo, mas a mente voa.
Como esses contos tornaram-se clássicos, se a narrativa acontece em palácios ou florestas e isso é tão distante da maioria das crianças, visto que não é comum encontrar palácios na cidade de São Paulo? E, apesar de existirem poucas florestas na nossa cidade, os jovens dão um jeito de se embrenhar em matas desconhecidas apesar do aviso de perigo dos pais.

Os contos trazem conflitos pertinentes à vivência humana que permeiam diversas gerações. Eles trabalham com o conteúdo humano, com aquilo que muitas vezes fica escondido como a rivalidade fraterna, sensações edípicas, desejar a “morte” do pai do mesmo sexo... Desta forma, o conto de fada irá mostrar às crianças, de uma maneira subjetiva e em alguns pontos objetivamente, que a vida trará algumas dificuldades. A luta e a descoberta não acontecem da noite para o dia. O herói ou a heroína passam por diversas provas e essas devem ser realizadas por eles mesmos: “A única forma de nos tornamos nós mesmos é através de nossas próprias realizações”. (Bettelheim, 1980:173).

A sociedade atual, globalizada, está cada vez mais tornando-se individualista e em busca de uma beleza externa perfeita, enquanto o mágico se esvai prematuramente.

Todos os dias há notícias de violência na televisão, seja filho matando os pais ou pais descontrolados espancando seus filhos.

Há também muitos programas que expõem a criança a uma sexualidade precoce. Seja programa infantil, novela ou “reality shows”. Uma reportagem da revista Educação, mostra-nos que os partos cresceram em 31% entre meninas de 10 a 14 anos – idade que a menina não tem maturidade psicológica, principalmente para criar um filho. As dúvidas e as angústias por que passam, crianças e jovens, são hoje respondidas de forma erotizada pelos meios de comunicação, especialmente a televisão. Sem contar o fácil acesso a sites da internet.

O resgate da magia da leitura dos contos de fadas não será a solução dos problemas mundiais, no entanto, como eles atuam também no inconsciente, podem ajudar muito a criança a eliminar/entender o(s) conflito(s) pelo qual está passando no momento que entra em contato com a leitura e/ou a escuta deles.

Existem diversas interpretações e análises para os contos de fada. É importante ressaltar que este artigo tem como respaldo a linha psicanalítica, levando em conta as teorias de Sigmund Freud e Jacques Lacan. Além disso, a escolha dos contos de fadas para a leitura foi cuidadosa, no sentido de procurar as traduções mais próximas das edições originais.


“Não é surpreendente descobrir que a psicanálise confirma nosso reconhecimento do lugar importante que os contos de fadas populares alcançaram na vida mental de nossos filhos. Em algumas pessoas, a rememoração de seus contos de fadas favoritos ocupa o lugar das lembranças de sua própria infância; elas transformaram esses contos em lembranças encobridoras”. (Freud, 1913:355).


Os contos surgem a partir dos mitos e tradições orais, alguns datados do século II d.C.. Eles sofreram e sofrem modificações em sua estrutura, não apenas por razões externas, mas também por razões internas ao do próprio contador. Nas versões escritas por Perrault, por exemplo, ele acrescenta preceitos morais, já que esses contos eram usados para a diversão na corte de Versalhes.

Nos dias atuais, essas alterações também ocorrem acarretando muitas vezes uma modificação no enredo da história para parecer menos “chocante” aos olhos da sociedade. 

Os autores dessas mudanças acreditam que a perversidade existente nos contos podem influenciar as crianças de forma a estas tornarem-se “violentas”, no entanto, parece não querer ver que os conflitos existentes nos contos são os conflitos internos pelos quais as crianças passam.

As histórias dos contos de fadas, independente do local de origem, passam-se em lugar e épocas inexistentes (“país muito longe”, “numa floresta encantada”, “há muitos e muitos anos”...). Esta é uma das razões da fácil migração e entendimento em várias culturas e por várias idades, já que os contos tratam de conflitos que permeiam toda a base humana universal. Ou seja, os contos são atemporais, assim como o Id.

Os principais autores e adaptadores de contos de fada são Charles Perrault (França), Hans Christian Andersen (Dinamarca) e Jakob e Wilhelm Grimm (Alemanha) – estes últimos mais conhecidos como “Os irmãos Grimm”.

Mas, afinal, qual a relação entre contos de fadas e a subjetividade infantil? Quais os conteúdos presentes em um conto que possibilitam a uma criança elaborar seus conflitos? É impossível detalhar cada trecho e cada passagem de todos os contos, não apenas pelo número volumoso de contos, mas principalmente porque cada conto tem uma importância diferente para cada criança em períodos diferentes de sua vida.

Como se constitui um sujeito? Quais os conflitos que vive? Lacan, apropriando-se de Freud, nos oferece referenciais partindo do Estádio do Espelho. Este Estádio, descrito por Lacan, começa aproximadamente aos seis meses de idade. É através dele que a criança começa a conquistar sua imagem corporal, através do discurso e do desejo do outro (mãe).

De que forma os contos de fadas expressam esse momento e seus conflitos? Como ilustração podemos citar o conto: O patinho feio. Nesta história de Andersen, uma pata choca seus ovos e quando estes se quebram um sai diferente de todos os outros. Feio. Apesar de nadar muito bem, o patinho é desprezado pelos seus irmãos, pela comunidade dos patos e por sua mãe que diz: “Eu queria ver você bem longe daqui!” (Andersen, 1995:110).

O patinho começa a achar que ele é realmente muito feio, então foge. Durante sua viagem passa por dificuldades e seus infortúnios são responsabilizados pela sua feiura  Até que em um momento, ele vê os cisnes e vai ao encontro desses, mesmo correndo o risco de levar bicadas. Chegando lá:“(...) O pobrezinho abaixou a cabeça, olhando para a água, e esperou. Mas que foi que ele viu na água límpida? Por baixo de si, viu sua própria imagem; só que sua imagem não era mais de um desajeitado pássaro cinza-escuro, feio e repelente. Ele era um cisne!” (Andersen, 1995:118).

O patinho, na verdade um cisne, já havia nadado antes em outros lagos. Porém, olhava-se através do olhar do outro, assujeitado ao desejo e olhar do outro – principalmente daquela que exerce a função materna. Saindo para o mundo, crescendo, quando volta a olhar sua imagem ele já vê um lindo cisne branco e não apenas um pato cinza feio – saída dessa assujeitação. É nesse Estádio que a criança começa aos poucos perceber que seu corpo, até então sentido como fragmentado, é algo único. É através dessa experiência, com a mediação do outro-mãe (mãe, enquanto função materna), que a criança começa estruturar seu eu e a conquistar a sua imagem corporal.

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